As raízes monásticas da educação clássica

(02/06/2024)

Se você gosta de literatura grega ou romana ou educação clássica em geral, pode agradecer a um monge.

Mais do que em qualquer campo de batalha, a civilização ocidental foi preservada dentro dos limites tranquilos de um mosteiro.

No ano de 540, a Europa ocidental estava em caos. Os bárbaros haviam deposto o imperador romano. Centenárias instituições estavam em decadência. A chama da civilização estava quase apagada.

Mas num mosteiro na Calábria, Itália, um monge chamado Cassiodorus se esforçava para manter essa chama acesa.

Nascido numa família aristocrática, Cassiodorus teve uma carreira inicial muito diferente de sua vocação posterior. Ele ascendeu nas fileiras do cenário político romano, chegando, por fim, a prefeito pretoriano, a mais alta função administrativa do império, diretamente sob Teodorico o Grande.

Além de suas funções administrativas, Cassiodorus tinha uma grande paixão pela educação. Ele se esforçou para criar um plano para a continuação da educação romana durante tempos incertos.

O caos do último século deixou muitos romanos preocupados com a sobrevivência de suas queridas instituições.

Embora fosse um cristão devoto, ele considerava os textos gregos e latinos imensamente valiosos. Cassiodorus não via qualquer problema em citar Cícero ou Aristóteles numa época em que autores pagãos eram frequentemente olhados com desconfiança.

Depois de se retirar da vida pública, Cassiodorus tomou uma decisão intrigante. Ele se tornou monge e estabeleceu o mosteiro beneditino de Vivarium, um lugar que acabaria por transformar o Ocidente.

Lá ele começou a trabalhar no desenvolvimento do seu programa educacional. Ele criou um guia e as instituições, apresentando aos alunos tanto as escrituras quanto as obras seculares.

Ele acreditava que ao estudar a grande literatura, um estudante pode ser instruído sem ter um professor formal. Os textos seriam seu professor. Ele escreveu:

 “Fui movido pelo amor divino para planejar para vocês, com a ajuda de Deus, esses livros introdutórios para tomar o lugar de um professor.”

Seu programa inicialmente concentrou-se nos salmos. Esses poderiam ser compreendidos por leitores não treinados, devido ao seu apelo emocional direto.

Em seguida, veio a gramática, retórica, dialética, aritmética, música, geometria e astronomia. Esses tópicos se tornaram a base da educação clássica.

Ele incentivou o estudo de tópicos seculares, como auxílios para compreender melhor as escrituras sagradas e, portanto, uma das metas do plano dele.

A educação deve ser buscada para aprofundar o entendimento de Deus. Além das artes liberais, os alunos eram incentivados a estudar roteiros médicos dos antigos, como Hipócrates e Galeno, tornando os monges do Vivarium instruídos em conhecimento científico, em grande parte desconhecido para o Ocidente na época.

Cassiodorus também criou um regime diário para copiar manuscritos antigos. Monges já copiavam manuscritos muito antes do Vivarium.

Embora fosse geralmente reservado para monges deficientes ou novatos, Cassiodorus tornou a cópia uma prioridade. Obrigou todos os monges a fazer da cópia de textos, uma prática regular, ampliando sua disponibilidade e garantindo sua existência para as futuras gerações.

Seu objetivo era salvaguardar a história clássica e a literatura e, ao mesmo tempo, criar a disciplina em sua escola monástica. Essa abordagem foi replicada por outros monastérios e resultou na proliferação de textos anteriormente desconhecidos.

Monges das Ilhas Britânicas e da Alemanha, em particular, estavam entre os copistas mais produtivos e replicaram uma enorme quantidade de literatura.

A beleza era primordial para Cassiodorus. Ele acreditava que a beleza e a bondade estavam entrelaçadas e incentivou o aprimoramento estético dos manuscritos, pintura e caligrafia, embelezaram os textos e incorporou a ideia de que o conhecimento contido neles era um tesouro.

É difícil exagerar o impacto de Cassiodorus. Sua influência dentro da comunidade monástica contribuiu para a preservação de inúmeros textos clássicos e teológicos.

É provável que soubéssemos menos de Aristóteles, Cícero e outros escritores clássicos, sem a influência de Cassiodorus.

Além disso, seu programa escolar e sua insistência de que a leitura era o alicerce de uma boa educação, lançaram as bases para o que hoje é conhecido como educação clássica.

Atualmente enfrentamos um desafio semelhante ao de Cassiodorus. O Ocidente está lutando para se lembrar de suas raízes.

Tornamo-nos desinteressados e finalmente desconectados das ideias fundamentais e pensadores que construíram nossa civilização.

Assim como Cassiodorus procurou proteger a cultura romana durante tempos caóticos, também devemos nos esforçar para proteger as riquezas de nossa herança de forças determinadas a apagar a verdade, bondade e beleza do corpo ocidental da literatura e da filosofia.

Sir Roger Scruton coloca isso de forma apropriada.

“Não apenas estudamos o passado, nós o herdamos  e a herança traz consigo não apenas os direitos de propriedade, mas também os deveres de tutela. Coisas pelas quais eles lutaram e morreram, não devem ser desperdiçadas negligentemente, pois elas são propriedade de outros que ainda não nasceram.”

Thinking West Group

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NOTA

O texto acima foi extraído das legendas deste vídeo, publicado no

Bitchute.

Luigi Benesilvi

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