O lado obscuro do multiculturalismo – Raymond Ibrahim
(28/05/2025)
Todas as cultura são iguais?

Essa é, afinal de contas, a premissa tomada como garantida, por trás da noção amplamente aceita de multiculturalismo, uma crença que, sozinha, levou à infusão de inúmeras culturas dentro do Ocidente.
Lembrei-me dessa questão, quando recentemente pensava no falecimento do Papa Francisco. Lembrei-me de como, certa vez, ao pedir desculpas aos povos indígenas por todas as coisas horríveis que os cristãos fizeram a eles ao longo dos séculos. O falecido Papa declarou:
“Nunca mais pode a comunidade cristã se deixar infectar pela ideia de que uma cultura é superior a outras.”
Essa posição, amplamente defendida, é muito perigosa, especificamente porque leva ao relativismo e à abnegação da verdade.
O problema é que, para a maioria das pessoas ocidentais hoje, a palavra cultura evoca diferenças superficiais, como roupas exóticas ou comida. Na realidade, entretanto, as culturas são nada menos do que visões de mundo, inteiras e distintas, com seus próprios conjuntos exclusivos de certo e errado, muitas vezes enraizados numa religião ou filosofia.
De fato, para alguns pensadores, como T.S. Elliot, cultura e religião estão inextricavelmente ligadas e
“Cultura e religião são aspectos diferentes da mesma coisa. A cultura pode até ser descrita simplesmente como aquilo que faz com que a vida valha a pena ser vivida. Nenhuma cultura pode surgir ou se desenvolver exceto em relação a uma religião. Podemos ver uma religião como todo o modo de vida de um povo, desde o nascimento até o túmulo, da manhã até a noite e até mesmo durante o sono. E esse modo de vida também é sua cultura.”
Isso foi extraído do livro de T.S. Elliot, “Notes towards the definition of culture” (Notas sobre a definição da cultura).

Da mesma forma, para o historiador anglo-francês Hilaire Belloc,
“As culturas nascem das religiões. Em última análise, a força vital que mantém qualquer cultura é sua filosofia, sua atitude em relação ao universo. A decadência de uma religião envolve a decadência da cultura correspondente a ela. Vemos isso mais claramente no colapso do cristianismo hoje em dia.”
Ele fez essas observações há quase um século.
O que será que ele diria hoje?

De qualquer forma, o ponto aqui é que as culturas trazem muito mais do que, digamos, a conveniência de ter alguma culinária tailandesa na rua.
O que leva a outro importante fato. Todos esses tratos culturais, valorizados pelo Ocidente moderno hoje em dia, liberdade religiosa, tolerância, humanismo, gênero (apenas de macho & fêmea) e a igualdade, não se desenvolveram num vazio, mas são subprodutos dos princípios e da ética cristãos que, ao longo de cerca de 2.000 anos, tiveram uma profunda influência na epistemologia ocidental, na sociedade em é claro, na cultura.
Embora esses valores sejam agora tidos como naturais e vistos como universais, há uma razão pela qual eles nasceram e foram nutridos em nações cristãs, e não em nações muçulmanas, budistas, hindus ou confucionistas.
Mesmo que se aceite a narrativa amplamente arraigada de que o Iluminismo foi o que levou ao progresso ocidental, é revelador o fato de que esse iluminismo surgiu em nações cristãs, e não em qualquer uma das muitas nações não cristãs, que acabei de mencionar.
Tudo isso é omitido pelos que ignoram as raízes espirituais e intelectuais da civilização ocidental.
Muitas pessoas seculares do Ocidente arrogantemente se consideram o ponto culminante de toda a história humana. Pensadores iluminados, que deixaram toda a bagagem cultural e religiosa para trás, se preocupam apenas com o que importa a eles, ou seja, o material.

Para eles, todas as religiões e culturas são superficialidades que vão acabar sendo descartadas por todos os povos do mundo. O mundo não ocidental, de acordo com essa forma de pensar, está destinado a se desenvolver exatamente como o ocidente, que não é mais visto como uma cultura distinta, mas sim como o ponto final de todas as culturas.
A insensatez desse tipo de pensamento é especialmente acentuada no contexto do Islã e dos muçulmanos, que nesse novo paradigma são vistos como ocidentais embrionários.
O que quer que um muçulmano diga, clame pela jihad, odeie os infiéis, com certeza, no fundo, ele valoriza o secularismo e aprecia a necessidade de praticar o Islã em particular, respeitar a liberdade religiosa, a igualdade de gênero e assim por diante.

Assim é esse pensamento.
Assim, ele é feito à nossa imagem, exceto, é claro, que esquecemos as raízes de nossa imagem.
Na realidade, o muçulmano tem sua própria, única e antiga visão de mundo e um conjunto de princípios, sua própria cultura, o que, por sua vez, leva a um comportamento que é considerado radical pelos padrões ocidentais, que são falsamente considerados padrões universais.
Como T.S. Elliot, que obviamente refletiu muito sobre essas questões, escreveu:
“Em última análise, religiões antagônicas devem significar culturas antagônicas e, no final das contas, religiões não podem ser reconciliadas.”
Retratar o que na raiz é um subproduto do ensino cristão como universal e depois aplicá-lo a uma cultura alienígena como o Islã está fadado ao fracasso. A ideia de que os muçulmanos podem ser fiéis à sua religião e, ainda assim, se encaixarem naturalmente na sociedade ocidental é falsa e se baseia numa premissa igualmente falsa de que o cristianismo, de alguma forma, também teve que se moderar para se encaixar na sociedade secular.
Na verdade, os princípios cristãos, que são tão estranhos ao Islã, foram fundamentais para a criação do Ocidente.
Então, o que dizer do multiculturalismo?

Essa palavra que o Ocidente deve continuar celebrando e abraçando de todo o coração, como se vê, por trás dela, está a ideia de que todas as culturas são iguais e nenhuma, certamente não a cultura cristã ou ocidental, é superior às outras. Novamente, para citar o querido falecido Papa.
Na realidade, o multiculturalismo é outra maneira eufemística de minar e substituir as verdades de uma religião e sua cultura, o cristianismo, pelo relativismo.
Anteriormente, os povos ocidentais entendiam que capitular diante de uma cultura estrangeira era equivalente a suicídio. Assim, e citando novamente T.S. Elliot,
“É inevitável que, ao defendermos nossa religião, estejamos ao mesmo tempo defendendo nossa cultura e vice-versa. Estamos obedecendo ao instinto fundamental de preservar nossa existência.”
Novamente, isso foi extraído de seu livro “Notas sobre a definição da cultura”.
Uma história capta bem esse choque de culturas. Depois que as potências coloniais britânicas proibiram o “Sati”, a prática hindu de queimar a viúva viva na pira funerária do marido, os sacerdotes hindus reclamaram ao governador britânico Charles James Napier, que o “sati” era uma parte importante de sua cultura e, portanto, seu direito,

ao que ele respondeu:
“Assim seja. Essa queima de viúvas é seu costume. Preparem a pira funerária. Mas minha nação também tem um costume. Quando os homens queimam mulheres vivas, nós os enforcamos e confiscamos todos os seus bens. Meus carpinteiros, portanto, vão erguer os cadafalsos para enforcar todos os envolvidos quando a viúva for consumida. Vamos todos agir de acordo com nossos costumes nacionais.”
Era muito aliviador, certo, quando os homens costumavam falar assim.

A propósito, opor-se ao multiculturalismo, ou seja, ao relativismo, não é, de forma alguma, a mesma coisa que opor-se a outras raças ou etnias, mas sim opor-se à desunião social e ao caos. Afinal de contas, nações racialmente homogêneas, mas culturalmente heterogêneas são muito mais fraturadas do que o contrário.
Não é preciso ir além dos Estados Unidos, onde brancos de esquerda e de direita geralmente se detestam. Ou veja o Oriente Médio, onde muçulmanos e cristãos são amplamente homogêneos em termos raciais, étnicos e linguísticos, mas onde os primeiros perseguem impiedosamente os segundos, exclusivamente por causa da religião.
Em resumo, nada há de errado que os cidadãos de uma nação sejam compostos por diferentes raças e etnias, mas somente se eles compartilham a mesma visão de mundo, as mesmas prioridades, a mesma ética, o mesmo senso de certo e errado.
Em uma palavra, a mesma cultura.
Raymond Ibrahim
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NOTA
O texto acima foi extraído deste vídeo publicado no Bitchute.
Luigi Benesilvi
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