As bombas que salvaram a vida de milhões de pessoas – Luigi Benesilvi

(04/08/2023)

A maioria das pessoas com as quais tenho falado sobre o uso de bombas nucleares pelos norte-americanos sobre as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki em agosto de 1945, manifestam o sentimento de que aquilo foi um absurdo, porque as mortes causadas pelas duas bombas foram de mais de 200 mil pessoas inocentes.

Cresci ouvindo toda hora críticas à atitude dos Estados Unidos de usarem as bombas atômicas, principalmente por expoentes da esquerda mundial, simpáticos à ditadura da União Soviética, inimiga ferrenha dos americanos desde o fim da segunda guerra mundial.

Analisando os eventos que antecederam o lançamento das bombas, encontrei uma perspectiva um pouco diferente das críticas que eu ainda ouço, principalmente das gerações mais novas.

A bomba lançada sobre Hiroshima matou imediatamente cerca de 80 mil pessoas e a de Nagasaki umas 60 mil. Muita gente morreu depois, em consequência de queimaduras e dos efeitos da radiação nuclear.

Naquela ocasião, o então presidente dos Estados Unidos, Harry Truman, teve que tomar a decisão de usar as bombas atômicas, porque seus assessores o alertaram que o governo japonês não dava sinais de rendição, mesmo após a derrota que sofreu em Okinawa, uma ilha muito próxima das grandes ilhas principais do país e do intenso bombardeio de Tokyo, realizado em março de 1945.

Em março de 1945, o general Curtis LeMay, comandante da força aérea norte-americana no Oceano Pacífico, ordenou um maciço bombardeio a Tokyo, com bombas incendiárias, que matou mais de 100 mil pessoas imediatamente e outras tantas morreram em consequência de queimaduras. A maioria das casas eram feitas de madeira. Calculam que cerca de um milhão de japoneses tiveram suas casas destruídas.

Mesmo assim, o governo japonês não se impressionou e não se rendeu.

Pelas mortes ocorridas na invasão de Okinawa, os norte-americanos fizeram alguns cálculos sobre o número de mortes que ocorreriam se tivessem que invadir as ilhas principais do Japão.

De abril a junho de 1945, cerca de 250 mil soldados americanos invadiram a ilha de Okinawa, defendida por uns 130 mil soldados japoneses, fortemente entrincheirados nas montanhas da ilha.

Depois de 2 meses de combate, haviam morrido cerca de 110 mil soldados japoneses e cerca de 15 mil norte-americanos, que tiveram uns 40 mil feridos e só sobraram vivos e foram capturados uns 12 mil soldados, a maioria deles feridos.

Quer dizer, para cada americano morto na invasão da ilha morreram cerca de 7 japoneses.

Os cálculos indicavam que a invasão das ilhas principais do Japão causaria a morte de mais de 2 milhões soldados americanos e mais de 14 milhões de japoneses, a maioria dos quais seriam civis, recém convocados a defender o país.

Os serviços de inteligência tiveram conhecimento que o governo japonês estava convocando e treinando todos os cidadãos, homens idosos, mulheres, jovens e até mesmo crianças, a defenderem fanaticamente seu Divino Imperador e a honra de seu país, no maior espírito do “Bushido”, o código de honra dos Samurai.

Os Estados Unidos continuavam bombardeando as principais cidades japonesas, principalmente as que tinham grandes complexos de produção de aço e matérias para fabricação de navios, aviões e outros armamentos.

O Japão estava cercado, isolado, praticamente derrotado, sem recursos materiais e sem poderio bélico, mas não se rendia.

A invasão do Japão estava prevista ocorrer no início de 1946, com a chamada “Operação Downfall”.

Outro fator que parece ter influenciado a decisão de Truman, foi que os russos, que haviam participado da vitória sobre os alemães em maio de 1945, mas não estavam em guerra contra o Japão, já tinham planos de invadir o norte do Japão, para apoderar-se de várias importantes ilhas japonesas. A “guerra fria” já tinha começado.

Havia ainda um fator político muito importante a ser considerado para as eleições que ocorreriam em 1948.  Truman era vice-presidente dos EUA e recém havia substituído o presidente Franklin Delano Roosevelt, falecido em 12 de abril de 1945.

O que pensaria o povo americano de um candidato que havia permitido a morte de uns 2 milhões de bravos soldados americanos por não ter usado toda a força militar que tinha à sua disposição?

Nessas alturas os Estados Unidos já haviam testado, com sucesso, a primeira bomba atômica, em 16 de julho de 1945 e o público já tinha conhecimento do resultado positivo do teste.

Em 26 de julho de 1945, as forças aliadas deram um ultimatum ao Japão, cujos termos foram estabelecidos na reunião dos representantes dos EUA, Inglaterra e China, na cidade de Potsdam, na Alemanha Oriental, já ocupada pelos russos, que não estavam em guerra contra o Japão.

Assim, Truman autorizou o lançamento da primeira bomba atômica, chamada de “Little Boy”, sobre a cidade de Hiroshima no dia 6 de agosto de 1945, com o objetivo de fazer o Japão render-se, mas não causou a muito esperada rendição.

Então, dia 9 de agosto foi lançada a segundo bomba (Fat Man) sobre a cidade de Nagasaki, o que fez o governo japonês aceitar finalmente a exigida rendição incondicional.

O resumo dessa história é que as mortes de cerca de 200 mil pessoas, evitou a invasão militar do Japão e poupou a vida de uns 2 milhões de soldados americanos e de mais de 15 milhões de japoneses, a maioria civis, idosos, jovens e até crianças.

Nunca vai dar para saber exatamente quantas pessoas morreriam e as opiniões variam, mas pela dedicação fanática dos japoneses daquela época à figura do Imperador, considerado divino, dá para imaginar que as mortes seriam muitas.

Vale lembrar que milhares de pilotos lançavam ataques suicidas com seus aviões contra navios norte-americanos, praticando o que é conhecido como ataque “Kamikaze” (Vento Divino).

Milhares de soldados japoneses consideravam ser desonroso render-se e preferiam morrer lutando a entregar-se. Muitos oficiais, quando se davam conta da derrota inevitável, praticavam suicídio de honra, chamado “Haraquiri” ou “Seppuku”, enfiando uma adaga no próprio abdômen.

O fanatismo era tão forte que, mesmo após o Imperador ter gravado o discurso anunciando ao povo que a guerra estava terminada, sem usar o termo “rendição”, para ser transmitido pelo rádio, um grupo de oficiais tentou dar um golpe militar contra o Conselho de Estado, numa tentativa, felizmente malsucedida, de impedir a rendição e continuar a guerra.

No dia 15 de agosto de 1945, às 8 horas da manhã, o povo japonês ouviu pela primeira vez a voz de seu Imperador.

De qualquer forma, fica ainda a questão moral do uso das bombas nucleares sobre um inimigo já derrotado, mas que, por orgulho, se recusava a aceitar a derrota.

Luigi Benesilvi

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REFERÊNCIAS

Além de assistir dezenas de documentários e filmes sobre a guerra do Pacífico, consultei vários textos sobre o evento específico do uso das bombas atômicas e dos planos de invasão do Japão, dos quais alguns links seguem abaixo.

Batalha de Okinawa, “Bombardeio de Tokyo, “Operação Downfall, “Quantos morreriam na invasão do Japão?Bombardeio de Hiroshima e Nagasaki”,  “O discurso do Imperador”.

Luigi

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