A Parte Mais Omitida da Guerra Civil Espanhola
(30/08/2017)
Numa viagem à Espanha há alguns anos, fomos guiados na excursão por uma senhora de uns 40 anos de idade, mal-humorada, quase sempre com cigarro na boca. Ao falar transmitia uma impressão de grande contrariedade e amargura com o que estava fazendo.
Num dos intervalos, fui puxar conversa com ela, mais para saber um pouco daquela figura amargurada e perguntei pela história da revolução espanhola de 1936, daquelas atrocidades todas cometidas pelas tropas do Generalíssimo Franco, ajudado pelo nazista Hitler e pelo fascista Mussolini.
Ela fechou ainda mais a cara e respondeu secamente: “Franco salvou a Espanha de ser uma ditadura comunista como são a Coreia do Norte, Cuba e Venezuela”. Estava muito zangada com a União Europeia, pois achava que ela acabaria por implantar o comunismo por outros meios.
Fiquei surpreso, porque minha visão da revolução espanhola era aquela contada no livro de Ernest Hemingway, “Por Quem os Sinos Dobram”. No filme homônimo, o romântico norte-americano, Robert Jordan, protagonizado por Gary Cooper, despede-se da linda menina Maria (Ingrid Bergman) ao ter que ficar para trás, sozinho e ferido, para retardar o avanço das tropas falangistas e dar tempo para os camaradas fugirem e salvarem-se.
Também conhecia a destruição implacável da cidade de Guernica pelos bombardeiros alemães, tão fortemente expressa por de Pablo Picasso no quadro “Guernica”. A visão das românticas “Brigadas Internacionais”, formadas espontaneamente para ajudar a defender a democrática república espanhola, fazia-me ter grande simpatia por aqueles heróis derrotados.
Não há como esquecer os discursos inflamados de Dolores Ibarruri, também conhecida como “La Pasionária” e sua célebre frase, “os fascistas não passarão”, usada até os dias de hoje pelos comunistas saudosos.

A visão que me haviam passado era a de uma jovem nação republicana, com um governo eleito democraticamente, sendo açoitada e finalmente derrotada por ferozes e implacáveis algozes falangistas, nazistas e fascistas.
Resolvi dar uma investigada sobre a tal revolução espanhola. Procurei na internet por reportagens, documentários e vídeos sobre a revolução.
Li dezenas de artigos e assisti outras dezenas de vídeos do Youtube e o que encontrei foi praticamente apenas a versão que eu já conhecia, “da jovem república democrática derrotada pelos malvados e atrozes falangistas, nazistas e fascistas”.
Mesmo os vídeos que se esforçavam para parecerem um pouco mais neutros, não conseguem disfarçar o viés simpático aos republicanos. Apresentam um confronto desigual, com heroicos cidadãos de todo o mundo, mal equipados e mal treinados, defendendo uma utopia contra o covarde ataque de um bem treinado e bem equipado exército fascista.
Ao pesquisar um pouco mais descobri que a história é um pouco diferente e que “o fato de um contendor ser implacável e cometer atrocidades, não significa necessariamente que o outro lado seja bonzinho e humanitário”.
Para ter uma ideia da parcialidade do noticiário sobre a revolução espanhola, basta ler esta matéria publicada no jornal O Globo de 4/3/2013, na qual toca muito levemente sobre os acontecimentos relacionados ao período inicial do governo republicano, concentrando a matéria nos acontecimentos posteriores, de acordo com o interesse da narrativa socialista.
Aqui e ali fui descobrindo mais fatos, documentos e fotografias do período anterior e inicial da guerra civil, que mostravam um quadro bem diferente daquele pintado pela narrativa da mídia socialista.

Em 1931 a Espanha passava por mais um dos vários períodos de desorganização política, econômica e social. A situação estava tão difícil e a solução tão fora de alcance, que o Rei Afonso VIII abdicou para permitir a realização de eleições livres e o estabelecimento de um governo democrático, com apoio popular suficiente para resolver os problemas da Espanha.
As eleições foram vencidas por uma pequena margem pela coligação de partidos socialistas, que criaram a república e começaram a introduzir reformas radicais na sociedade espanhola.
Destruíram igrejas, assassinaram padres, estupraram e assassinaram freiras, na tentativa de eliminar o “ópio do povo”, como os comunistas chamavam a religião.
Com ajuda de União Soviética desapropriaram e coletivizaram terras e propriedades, controlaram a imprensa, fechando jornais de oposição e fuzilando seus proprietários. Criaram Conselhos Municipais, emulando os “sovietes” comunistas, que julgavam os opositores e os executavam sumariamente os condenados.
A Espanha continuava em caos, tendo sido convocadas novas eleições em 1933, vencidas desta vez pela coligação nacionalista de direita, que também não conseguiu dar encaminhamento adequado à solução da crise espanhola.
Em 1936 foram convocadas novas eleições, desta vez vencidas novamente pela coligação republicana, em resultado muito contestado pela coligação derrotada, que tentou dar um golpe de estado, mas fracassou.
A tentativa do golpe deu aos socialistas o argumento social e político para impor ferozmente a agenda comunista do novo governo, no que foi chamado de “Verão da Anarquia”. A confusão foi gerada porque os anarquistas, aliados dos comunistas, tinha ideias muito diferentes de como governar um país. A situação não melhorou, pelo contrário, piorava cada dia mais.
Em Barcelona se articularam milícias populares para combater numa guerra civil aberta entre facções comunistas e anarquistas contra a coligação nacionalista de direita.
Em oposição ao governo republicano, em 1º de outubro de 1936, os nacionalistas designaram como Chefe de Governo da Espanha, o General Francisco Franco, Comandante do exército que ocupava o Marrocos, no norte da África e uma parte do sul e oeste da Espanha.
Em meados de 1937 a parte leste da Espanha, de Madrid até o mar Mediterrâneo, estava sob domínio da coligação republicana (facções comunistas, anarquistas e socialistas) e a parte oeste pelas forças da coligação nacionalista (militares, católicos e falangistas), da fronteira com Portugal até a região central da Espanha.
Com o avanço dos nacionalistas, o governo republicano pediu ajuda aos soviéticos, mas este só concordou em enviar alguns poucos equipamentos militares e ajudar na formação das “Brigadas Internacionais”, que no apogeu chegaram a ter mais de 30 mil soldados voluntários, provenientes de mais de 50 países.
Naquela época a União Soviética mantinha relações muito amistosas com a Alemanha nazista de Hitler, que apoiava os nacionalistas, juntamente com a Itália. Talvez por isso e por receio de envolver-se na expansão de um conflito regional e confrontar outros países europeus é que a União Soviética preferiu não prestar maior ajuda aos republicanos. A amizade com a Alemanha durou até 1941, quando Hitler invadiu a União Soviética.
Sem ajuda da União Soviética e com muitas defecções nas “Brigadas Internacionais”, os comunistas foram perdendo batalha após batalha, até serem completamente derrotados em 1º de abril de 1939.
Até 1937 as atrocidades foram quase todas cometidas pelos integrantes das facções comunistas e são muito pouco documentadas e divulgadas pela mídia socialista.

Embora algumas publicações admitissem ter havido atrocidades “dos dois lados” não mostraram as atrocidades cometidas pelos republicanos, principalmente contra religiosos e camponeses. Só publicavam as cometidas pelos nacionalistas.
Padres e freiras foram quase completamente exterminados em algumas regiões e os proprietários rurais foram sumariamente executados pelos Conselhos Comunitários, sem testemunhas, sem fotografias e sem registros oficiais.
Conforme relata o Prof. Felipe Aquino: “Os expedientes da época provam que um dos assassinados foi enterrado vivo, a outros arrancaram os olhos, cortaram as orelhas ou arrastaram pela cidade, como aconteceu com o pároco de Carmen, Sotero González Lerma, a quem também penduraram na entrada do templo e o queimaram”.
A revolução espanhola de 1936 foi mais um evento entre os muitos em que a Internacional Socialista se envolveu, cujas atrocidades não foram registradas ou foram removidas posteriormente da história, assim como foi feito na própria União Soviética, China, Coreia do Norte, Cuba, Venezuela e outros lugares onde o comunismo foi implantado.
Luigi B. Silvi
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Muito interessante.
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