Diálogo do Imperador Bizantino com um Erudito Persa
(09/02/3019)
Um parágrafo do texto abaixo foi citado pelo Papa Bento XVI em seu discurso da “Aula Magna” da Universidade de Ratisbona (Herensburg, Alemanha), em 12 de setembro de 2006, que causou muitas críticas, por acharem que ele teria ofendido o sentimento de muitos muçulmanos.
Segue o texto:
Do mais pio Imperador, amigo de Cristo, Manuel Paleólogos, para seu querido irmão, o mais afortunado déspota, nascido em púrpura, Theodore Paleólogos.
Um diálogo com um certo persa, professor de profissão, ocorrido em Ankara de Gálata.
O começo da sétima controvérsia
O Imperador
Ao alvorecer, Mudarris saudou-nos aos pés da escadaria. Dirigindo-se a nós, de acordo com seu costume, ele disse, “Vamos retomar, se vocês estiverem de acordo, os pontos deixados em aberto ontem”. Quanto todos estavam sentados ao nosso redor, como de costume, eu comecei a falar:
1.
A Lei de Moisés veio de Deus. Isso é mostrado por uma multitude de milagres sobrenaturais. Porque Moisés não poderia fazer maravilhas além da natureza, se as leis que ele obedecia não tivessem sido comunicadas a ele por Deus.
Entretanto, Deus manifestadamente honrou essa Lei em frequentes feitos e declarações, não somente para aqueles que glorificavam o citado legislador, durante e depois da promulgação da Lei, mas também pelo fato que Ele odiava (por assim dizer) e rejeitava aqueles que não as observavam e se alguma pessoa as desdenhava, Ele desprezava essa pessoa e infligia a ela uma adequada punição.
Mas eu posso ensinar a vocês numa clara e curta maneira, a diferença entre as duas Leis.
Quase toda a humanidade se divide em três grupos: aqueles que seguem Moisés, aqueles que seguem Cristo e aqueles que seguem quem você não tem medo de comparar com aqueles que estiveram na presença de Deus. Entretanto, somente a vossa Lei tem, aos olhos de todos e de todos os pontos de vista, nada sadio nela.
2.
Considerem isto: vocês próprios dizem que a Lei de Moisés veio de Deus e que a nossa Lei é sem dúvida muito melhor. No entanto, vocês julgam ambas boas, embora vocês tenham preferido a vossa própria, que não é valorizada por ninguém, mas é depreciada por todos.
Aqui está a prova: se alguém perguntar a todos os homens, qual é a melhor de todas as leis e qual é, ao contrário, a pior, cada um vai fazer a afirmativa que a sua própria Lei é a melhor, mas que a de Maomé é a pior. Nós, agora, dizemos, em forma de suposição e vocês estão cientes que esta é certamente a verdade. Vocês desdenham em vão a opinião de todos os homens; pegando um de cada vez, como se fossem inimigos, vocês raciocinam muito mal. É sem dúvida necessário considerar o testemunho de cada um por si próprio, como inadmissível e seus votos inválidos: aqueles entre toda a humanidade, ao contrário, quando eles convergem, deve ser admitido, qualquer que seja o assunto sob consideração.
Então, a lei de vocês não pode mais ser chamada apropriadamente uma “Lei”, nem comparada com aquelas que são estabelecidas por um grande número de legisladores. E isso é porque os artigos mais significativos dessa nova Lei são mais antigos até que a legislação de Moisés. E porque eles têm uma origem antiga e não foi Maomé que os instituiu.
De fato, para acabar com a construção de ídolos, para fugir do politeísmo, para crer em um só Deus criador, para praticar a circuncisão como sinal de fé e outros pontos similares, Abraão estabeleceu isso sem escrever. Moisés então os colocou em escrituras e os promulgou, adicionando o que Deus, em revelações a ele, tinha ordenado. Então, essa mais recente Lei, vinda mais tarde do que aquela mais antiga, tomou emprestadas – isso é óbvio – suas bases e seus princípios; certamente não foi a mais antiga que tomou da mais nova. Como realmente poderia uma Lei mais antiga ser derivadas de uma mais recente?
Entretanto, tantas coisas lhe dão a condição de proeminência, que não há necessidade de fazer um discurso para mostrar isso. E o que posso dizer das bases e princípios, quanto ao que parece ser a mais perfeita de todas e o que posso dizer daquilo que de sua Lei parece ser mais consistente e é obviamente tomado da Lei mais antiga?
Então não há nada de novo lá, mas as mesmas coisas ditas novamente; ou em vez disso elas foram apropriadas sem pudores. Mostre-me qualquer coisa nova que Maomé instituiu: você vai somente encontrar o que é ruim e desumano, tal como quando ele ordena em decreto que a crença que ele prega deve ser expandida pela espada.
3.
Mas é necessário, penso eu, explicar este ponto mais claramente. Homens na terra devem experimentar uma de três coisas [de acordo com Maomé]:
– Eles devem submeter-se a essa nova lei;
– Ou pagar um tributo, e mais, serem reduzidos à servidão;
– Ou, na ausência de ambos, serem abatidos com ferro, sem hesitação.
Mas isso é extremamente absurdo! Por que? Porque Deus não deve ser agradado com sangue e agir de forma irracional é estranho a Deus. O que vocês dizem então ultrapassou as bordas da insanidade, ou quase isso.
Primeiramente, de fato, não é muito absurdo pagar tributo para obter a oportunidade de viver uma vida ímpia e contrária à verdadeira Lei?
Depois de tudo, a fé é fruto do coração, não do corpo. Então aquele que tenciona trazer alguém para sua fé, precisa de uma linguagem apropriada e um pensamento correto, não de violência ou ameaças, nem usar qualquer instrumento de ferir ou intimidar. Porque assim como, quando é necessário compelir uma natureza irracional, alguém não teria recursos de persuasão, da mesma maneira, para persuadir uma alma racional, ninguém precisa usar a força, ou um chicote ou qualquer outra ameaça de morte.
Ninguém deve usar a violência. Se ele usa a violência, é por conta dele próprio, porque a ordem é de Deus. Porque se fosse bom atacar com espadas quem é completamente descrente e se isso fosse uma lei de Deu dada desde o céu – como Maomé afirma – seria indubitavelmente necessário matar todos aqueles que não se submeterem a essa Lei e sua doutrina. É de fato muito ímpio comprar a fé com dinheiro. Vocês pensam diferente sobre isso? Eu não acho que pensam. Como poderiam pensar? Entretanto, se isso não é bom, matar é ainda muito pior.
Entretanto, se for encontrado algo que Maomé acrescentou à Lei de Moisés, imediatamente será chamada de Lei. E você não está satisfeito que nós permitamos a você falar desse jeito, mas pergunta se nós preferimos esta Lei em vez daquela precedente, por que motivo? Por algo que nem sequer é correto chamar de Lei!
De fato, a coisa verdadeira que nos faz considerar isso como Lei, é a mesma coisa que coloca esse tipo de Lei em lado oposto (da verdadeira Lei). Uma das propriedades da Lei é que ela pode ser acrescida de novas regulamentações, agradáveis a Deus. A lei de vocês tem regulamentações emprestadas. Se forem expurgados dela os artigos mais antigos, ela será apenas como a ave tagarela da fábula. As penas coloridas dela são emprestadas, então quando elas são removidas é ela própria que aparece, tornando-se novamente apenas uma ave tagarela.
Se então, todos considerarem a de vocês como Lei – nós também a chamaremos de Lei e, nesse meio tempo, para deixá-los contentes – inferior àquela dos Judeus.
4.
Eu falei assim. Ele ficou em silêncio por um longo tempo. Então o intérprete – um descendente de Cristãos, que gostava das crenças dos pais dele e se opunha aos pensamentos de nossos interlocutores, embora não tanto como seria apropriado – o intérprete assim, transmitia corretamente nossas palavras e com o olhar prazeroso, colocava a culpa no persa, mas não muito abertamente. Ele disse mais ou menos isso: “Quanto tempo ficaremos como estátuas sem retrucar? Você precisa ter a coragem de praticar ações generosas, senão nós vamos ficar cheios de confusão, deixando a vitória para os outros corvos”.
O persa então, levantou a cabeça com um orgulho arrogante, olhou para eles e então, virando-se para nós, ele falou mais ou menos o seguinte:
O Persa
5.
Eu tenho dito, eu disse e ainda direi que a boa e bela Lei de Cristo é muito melhor do que a Lei antiga, mas a minha é superior a ambas. Assim, considere o que vou dizer, vocês podem ouvir alguma coisa que não poderão condenar de forma alguma. A Lei de você, eu digo, é bela e boa, mas é muito dura e muito penosa e não pode facilmente ser útil. Esses remédios são de gosto amargo. Então, é errado acreditar em algo que não é totalmente perfeito.
A Lei de Maomé segue um caminho intermediário e proclama mandamentos suportáveis e na soma, mas gentis e mais humanos. Ademais, ela é moderada em todos os aspectos e toma precedência sobre outras leis. De fato, as falhas da antiga Lei, ela preenche pelos suplementos que a completam; por outro lado, ela reduz os exageros da Lei de Cristo. Existe também algo que expurga visivelmente ambas as Leis e assim ela claramente prevalece sobre elas.
Ela também evita, penso eu, a mediocridade e a imperfeição da Lei dos Judeus, por um lado e por outro lado, a elevação e grandeza dos preceitos de Cristo, suas asperezas, excessivas e pouco práticas para homens, porque elas forçam, por assim dizer, nossa natureza terrena para construir o Céu. A nossa Lei evita ambas as falhas e trilha pela moderação em tudo. Por isso, ela parece ser melhor que todas as Leis que a precederam.
A virtude, vocês sabem, consiste em evitar os excessos e guardar exatamente o feliz centro. Isso é que nós chamamos de virtude e o que é a virtude. A virtude é o feliz centro e o que não é centro não é virtude. Essa é a doutrina de todos os antigos e vocês mesmos disseram isso mais cedo.
Mas, digam-me, é isso estar no feliz centro – amar seus inimigos, orar por eles, alimentá-los quando estiverem com fome; – e o que é mais estranho – permitam-me a liberdade – odiar seus pais e irmãos e mesmo a sua própria alma; dar também o casaco, para que lhes roubou a camisa, – dar sem distinção a quem pedir, até que vocês fiquem mais nus do que um pau seco e ridículos aos olhos daqueles para os quais as propriedades de vocês seriam um saque dos Mysianos, ao fingirem estarem em situação de necessidade – para aqueles que batem numa face e vocês oferecem a outra face; para nunca encarar a maldade; – ficar sem cajado, sem mochila, sem dinheiro, sem túnicas; – e não se preocupar com o futuro?
Quem é o homem de ferro, diamante, mais insensível que uma pedra, que suportará essas coisas, – quem suportará o insulto e ainda assim apreciar o insultador; – quem fará o bem aos que são adversários dele; – qual proprietário de riquezas vai convidar as pessoas de sua espécie a aproveitarem-se dele como abutres em corpos dos mortos?
Ouvidos podem aceitar isso, ao menos em uma delas, sem estar em grande contrariedade com os requerentes de qualquer espécie, mesmo aqueles pelos quais mesmo se ficarmos na miséria não será suficiente?
E aquilo que é bastante intolerável e oposto aos preceitos de Deus já decretados, quero dizer, a virgindade, pode isso ser permitido? A resposta é óbvia. Porque viver num corpo e querer imitar a natureza de seres incorpóreos e, como se vivessem como puros espíritos, não se aproximar de mulheres, é contrariar a racionalidade: é um fardo pesado e uma grande violência.
Também, não procriar crianças para a posteridade, porque ao viverem sem casar, destruiriam o mundo, obviamente. É completamente absurdo e sem valor para Deus, criar no princípio o macho e a fêmea para procriarem e então, tendo alcançado o que foi prescrito, encherem a terra de homens e depois dar a eles uma lei que afasta os homens das mulheres.
Não me falem a respeito do dilúvio, nem no caso daqueles que foram massacrados no deserto no tempo de Moisés, nem do extraordinário fogo de Sodoma. Esses casos e as consequentes punições não fizeram o mundo inteiro desaparecer e foi por causa da magnitude das transgressões deles que foram considerados culpados. O próprio Cristo não foi um Ministro da ira. Ele não veio, penso eu, para praticar a vingança contra os homens que ofendem a Deus, mas para trazer benevolência e paz aos homens, principalmente por estabelecer uma lei melhor.
Vamos considerar o seguinte: é bom para o homem abandonar seu pai e sua mãe e procriar com uma mulher e assim aumentar a espécie humana, como o antigo preceito ordenou. Não há contestação a isso, penso eu. Deus proibiu que eu tente destruir o que foi prescrito por Deus a nossos primeiros pais para a construção de nossa espécie e que encheu este mundo com seres humanos! Mas, a segunda Lei, que estabelece a virgindade, vocês apenas querem ver esta suplantar a anterior! Por quê? Não deveriam todos observá-la? Mas, se todos a observarem, a inteira espécie humana seria reduzida a absolutamente nada.
Assim, esses preceitos, nominalmente, multiplicar-se e manter-se virgem, não se coadunam, em vez disso, eles se contradizem. E desde que não há escolha, dada sua oposição, um deve ser bom e o outro não. O que é ruim, na minha opinião, é aquele que urge aos homens terem uma indecente opinião a respeito de Deus. Esse é certamente o caso daquele que faz a espécie humana desaparecer, a virgindade, como eu havia dito.
Então essa Lei, refiro-me à Lei de vocês, oferece tantos de tais exemplos, é claramente imperfeita. Entretanto, ela é sem dúvidas, muito melhor do que aquela que a precedeu. Mas, em relação àquela que as seguiu, ambas ficam claramente sobrepujadas.
6.
A Lei que chegou depois, parece assim estar em posição superior do que as anteriores, como acontece nas edificações. É o que acontece com os Judeus, sob uma Lei que fica perto do chão, nós não podemos receber uma pessoa que vem para a Lei de Maomé, localizada mais acima, a menos que ela tenha antes passado pela prática da religião de vocês. Ela que vem a Deus não deve saltar para cima numa subida desordenada, mas, passando por cada degrau, subir para o nível intermediário em direção à mais alta, começando pela mais baixa.
Segue então, assim, falando sucintamente, que os Judeus possuíam a religião verdadeira, até a chegada de Cristo e esse foi o caso daqueles que tiveram fé nele; e os outros eram descrentes à Lei e não obedeceram Moisés, que tinha previsto a chegada de Cristo, mesmo que eles observassem todos os seus preceitos, mesmo se eles clamassem renderem-se à veneração de Moisés e honrassem (a ele) depois do próprio Deus.
Segue também, que aqueles que acreditaram em Cristo eram do povo de Deus, todos em sucessão, até a chegada de Maomé, que trouxe a Lei perfeita. Mas, depois disso, somente aqueles (pertencentes ao povo de Deus) que aderem a esta Lei. Então, aqueles que seguiram Maomé, aqueles são realmente discípulos de Cristo e Moisés. Os outros, ao contrário, que foram mais zelosos do que deveriam e por causa disso permaneceram e repeliram as Leis, provocaram contra eles próprios a ira dos legisladores e por seu trabalho louco, seus próprios ferimentos.
O Imperador
7.
O velho homem, depois daquelas palavras, franziu as sobrancelhas e sentou-se. O círculo de ouvintes estava atendo. O embate, eles sentiam, estava alcançando o ponto culminante. As crianças acompanhavam com gestos as palavras de seus pais e aplaudiam, saltando para cima e para baixo.
8.
Então eu digo: o que é isso, bom homem? Aqui, com esse massivo ataque, você investiu contra toda a acrópole, com uma grande arrogância e uma paixão feroz. Você esperava vencer já no primeiro assalto. Mas está errado nessa esperança. Aqui estão homens que vivem e estão firmemente assentados sobre uma rocha sólida. Estão cheios de maravilhosos bons feitos. Talvez um desse bons feitos, que você nunca experimentou e que vai ter sua parte, quando a guerra estiver afortunadamente terminada, com a ajuda de Deus e você e seus dois filhos, que estão aqui, a terão.
Mas, permito-me estar surpreso com isto: Você é na verdade um homem de bom senso e honra, nos primeiros lugares entre os doutores de vossa terra, adornado com uma grande sabedoria, específica de sua terra e tem moralidade virtuosa, acreditando que tudo é menos importante que a verdade.
E mesmo assim, você refuta a si próprio e se contradiz abertamente. Você já disse que a Lei de Moisés é divina e boa, falou vigorosamente que ela foi enviada do céu para os homens. Então, como se tivesse se arrependido de suas declarações anteriores, você não hesita em dizer maldades a respeito dela e então se contradiz, como eu disse. Não é realmente possível que a mesma Lei seja ambas, divina e boa e também ser de tal forma que possa receber críticas justas. Entretanto, essa Lei e aquela de Cristo, por não recomendarem moderação, você as coloca entre as Leis ruins.
Você assume que a melhor Lei em todos os pontos, é a vossa e que ela se mantém no feliz centro. Você espera mostrar assim, que por estar no feliz centro, ela seja consistente e com virtudes. Você se desvia dessa forma da posição correta e seus amigos ficarão envergonhados de você. Porque não é apropriado para um homem tão importante como você falar da Lei de Cristo com tamanho desdém. Você sabe o quanto permitiu-se mostrar esse desdém, abertamente, chamando-a de muito insuportável e muito violenta e absurdamente e desajeitadamente, mesmo chamando-a de armadilha e de outros epítetos similares.
Não estou dizendo qualquer coisa acerca das muitas críticas que você alardeou contra a virgindade, da qual tem grosseiramente atacado os legisladores que a estabeleceram, embora você também a tenha colocado acima de tudo.
9.
Mas, continue a refletir sobre isto. Você pode alcançar melhor julgamento, mesmo em pontos nos quais parece não ter se contradito.
Agora vou apresentar a minha defesa contra suas objeções.
As coisas extraordinárias e sobrenaturais, que você disse estarem além da virtude humana, porque elas parecem estar acima da natureza humana, estão meramente além do homem. Por outro lado, elas são muito acessíveis e fáceis para os homens, se eles quiserem. Isso pode parecer como um “quebra-cabeças” para você, mas são a completa verdade. Se considerarmos nossa força ou em vez disso a fraqueza herdade de Adão, esses pontos podem parecer acima de todas as virtudes, mas não quando consideramos o apoio e o poder daquele que nos chama a elas. Ele não encoraja os homens a abandoná-las sem sua ajuda, mas a mão invisível de Deus os ajuda em suas ações. Aqui, então estão tais assistências encontradas, não as que parecem serem rudes, que parecem estranhas, mas aquelas que em vez disso parecem muito mais fáceis?
Entre no espírito onde a recompensa é o reino de Deus. O discurso anterior já mostrou isso e você mesmo ainda concorda com ele. Ele é, portanto, necessário para aqueles cujas esperanças nutrem o apoio de tudo. Mas esta não é a hora de explicar-me. Suas palavras levam-nos imperceptivelmente para o assistencialismo, como uma corrente de água. Permitam assim procedermos na defesa, com a racionalidade, que pode persuadir você, sem necessidade de retruques, para que não fique mais envergonhado ainda com o que é justo (por assim dizer).
10.
Nosso Senhor, no tempo em que viveu entre nós, ajustando nossos hábitos e liderando-nos por todos os meios no caminho da luz da verdade, pareceu comandar e prescrever certas coisas indistintamente para todos. Ele as estabeleceu verdadeiramente como uma indicação, como um sinal, se quiser, que nós o amamos. Porque, ele disse, “quem me ama, observa meus mandamentos”. Então todos nós devemos observá-los bem. Sem isso, não é possível tornar-nos verdadeiros servos dele, dos pecadores que éramos anteriormente por causa do pecado original.
Os outros pontos, ele não os estabeleceu como preceitos necessários, não para todos, nem como senhor absoluto. São uma forma de exortação e conselhos ou batalha espiritual, se quisermos assim chamá-los, que ele oferece aos mais perfeitos, a promessa de ambos, o reino de Deus e a Divindade. Para aqueles que estão contentes em serem apenas servos, os pequenos com pequenas ambições, Ele concede os benefícios correspondentes. Toda a riqueza, como dizem eles, não é a mesma coisa. Pelo contrário, todos aqueles que recebem e observam este conselho, desfrutam da mística afiliação por meio da participação na graça divina. Como é evidenciado pelas obras e poderes do Espírito divino, que se revela neles e vem deles, como uma corrente de água proveniente de uma fonte eterna.
Desejo falar disso mais claramente. Possa eu ser perdoado se me permito, ao seguir essa linha de narrativa, levar-me, se quiser, pela corrente da verdade; ela me conduz ao que eu agora não quero dizer ou concordar e o que parece-me como uma fruta verde ou, em vez disso, por falar mais exatamente, a coisas prematuras para vós que estão mais apegados a coisas carnais. Tais frutos espirituais pertencem a todos aqueles que são inferiores a eles e que ainda estão apegados a todos os mandamentos: porque, se os omito, nós não seremos considerados servos sem culpas. Então, esses homens podem não somente evitar incorrer em punições, mas também beneficiar-se das recompensas imortais concedidas pela graça do senhor aos seus servos, de tal forma que os benefícios para todos aqueles que, até aqui, concordam em “submeter-se na forma de escravos”, embora Ele seja por natureza o senhor de todos eles.
Então está claro que respeitar os preceitos é uma necessidade geral e essencial. Mas para elevar o nível do conselho, que também eleva a afiliação, é uma questão somente para aqueles que escolhem sofrer as coisas penosas, qualquer que seja a quantidade e qualidade, para obter o regozijo e a glória sem fim. É tarefa deles preservar sua vontade até o final, não sobre o tempo de abandonar o grupo dos virtuosos que praticam a virtude por si mesmos e finalmente obter a coroa destinada somente para as cabeças dos verdadeiramente virtuosos.
É por isso que o Salvador, que queria mostrar o que eu disse, usa essa expressão, muito pequena, se considerarmos só as palavras, mas tão grande como o Céu, no seu significado: “Bem-aventurado aquele que é capaz de entender”. É como se ele dissesse: grande é a atual batalha, mas largas e eternas são as recompensas. Isso é para notificar o homem que mostrou coragem juvenil e que, apoiado por sua meditação, sabe como resistir a essa parte árdua. Não pretendo que você treine à força como numa corrida. Isso não seria normal e nem justo. Saber quem tem o poder, isto é, a vontade de superar a parte árdua.
Ele é que é merecedor de admiração. Porque a livre vontade, a honra concedida aos homens desde o princípio e pela qual eles são superiores aos animais, permanece intacta. É desnecessário que seja de outra forma. Por que como poderia alguém dar de presente o que foi feito por necessidade, quanto ao que concerna ao reino ou deveríamos coroar um preguiçoso?
Muito pelo contrário, é de outra forma, é por uma arte e um adequado poder que ele direciona todos nós a atingir melhores objetivos. Ele abriu a todos os homens as portas do reino do Céu e indicou o caminho que nos leva a ele. Encaminhando-nos a uma conclusão bem-sucedida em tudo o que se relaciona a esse propósito. Ele nada omitiu na forma de aliviar e ajudar os esforçados e viajantes. Nada há que ele não tenha recomendado fortemente para o bem de todos.
É uma lei acima da natureza o que você vê aqui? Ela prepara todos os homens para a virtude, provê alívio para a vontade e recompensas ao que reflete aos esforços de todos.
Os Persas
Nós vemos, disse alguém, você falar de mistérios e doutrinas maiores que nosso conhecimento. Os preceitos de Cristo, você os divide em mandamentos e conselhos. Você soube expor extremamente bem este assunto. Mas nós gostaríamos de ouvir você explicar isso mais claramente e em detalhe.
O Imperador
13.
O que pensam vocês, eu disse, que poderia acrescentar em minha defesa? Qualquer pessoa que não consiga manter sua virgindade, não será privado de futuras bênçãos, de outra forma os eleitos seriam muito poucos. Similarmente, qualquer pessoa que se desveste e dá seu casaco, mas não oferece também a camisa a quem busca só o confronto, não é merecedor de punição, nem aquele que ao levar uma bofetada numa face não oferece a outra face ao agressor.
Mas, mesmo que não sejamos capazes de demonstrar a vontade de suportar uma injustiça maior do que a inclinação para a injustiça do injusto, a despeito do fato que quem sofre pacientemente a injustiça de qualquer um, merece, como sabemos, uma importante recompensa, porque isso não é fácil, nem ao alcance da maioria das pessoas.
Essas são suas declarações do início – vocês lembram – que nós temos corretamente trazido essas palavras. Entretanto, mesmo tomando esse caminho, o mais alto caráter das exortações nos faz bons. Porque, certamente, nada nos daria mais prazer do que ser capaz de alcançar isso, de lançar-nos a eles como um objetivo e despir-nos dessa debilidade do espírito
Isso não é para nós uma aquisição da natureza, longe disso! Mesmo se nós não fossemos capazes da dar nem mesmo o que escapou da ferocidade do injusto, mesmo assim nós não teríamos praticado todas as maiores virtudes e não é dessa forma que alcançaremos a perfeição, se fomos capazes de alcançar, como dizem eles, a segunda crucificação, para saber como suportar pacientemente qualquer interferência em nossas vidas, mas mantemos a serenidade, sabendo o quanto nós somos carentes de boas coisas entre as melhores coisas.
O Persa
14.
Como isso é óbvio, disse o Persa, que a serenidade que procuramos depois daqueles que são carentes a respeito das coisas mais nobres, mas praticam a caridade e a justiça como virtudes?
Você disse, penso eu, que poucos partilharão das bênçãos eternas. Viver com tais expectativas não é manter-se com serenidade.
O Imperador
Mas, meu caro colega, isso é possível na necessidade daqueles que pelo menos têm espírito e racionalidade de princípios adequados. Se os homens observarem cuidadosamente os mandamentos, bons para servos mercenários, considere como estimar aqueles providos pelo filho?
Não existe nada que possa engajar um servo a ter orgulho, se ele é sensível. Se de fato ele faz os trabalhos de servos, mesmo que pelos serviços dele ele deu ao seu senhor milhares de bênçãos, feitas de escuridão, pobres e humildes elementos, ele meramente cumpriu suas obrigações e não fez os trabalhos por livre vontade.
Quem não cumpre suas obrigações é merecedor de espancamento, prisão e outros castigos. Aquele, por outro lado, que cumpre bem todas as tarefas, ninguém o admira; nem mesmo ele admira a si próprio, penso eu. É lugar para fazer isso? Longe disso.
Entretanto, o exemplo, certamente não é dos mais felizes. Para nós, que precisamos de servos e existem aqueles que, por causa de seus servos, escaparam de prejuízos e adquiriram muitas propriedades. Mas Deus, o que necessitaria de nossos serviços, Ele que não tem carência de nada e que criou todas as coisas meramente por sua boa vontade?
Nenhum homem com inteligência pode sentir orgulho por observar os mandamentos de seu senhor. Ele vai ter seu pagamento, que é provido por graça. Porque nenhum pagamento é devido ao escravo. Ele obtém, no entanto, o que sua conduta moderada merece e ele invejará aqueles que têm praticado as coisas que ele não pode praticar.
16.
Isso deveria ser o suficiente. Mas, é necessário que o discurso, que se desviou do tópico principal por causa de vossas perguntas, deve responder a aqueles que a requeiram. Algumas vezes, mesmo no curso da discussão, o discurso nos retorna à trilha e então ele completa o curso e retorna ao assunto que é apropriado.
Não é certamente verdade que aqueles que não conseguiram elevar-se ao nível dos conselhos e exortações ficaram perdidos. Se, sem fazer nada errado a ninguém, sem desejar o sofrimento a outrem, nós então carregamos o medo de sofrer abusos e nos dirigiremos ao senhor do julgamento para acusar os autores dos malfeitos e não iremos por isso ser passível de censura.
Certamente não, não mais do que se nós formos reclamar por usar sapatos, possuir duas túnicas, com auxiliares, malas e dinheiro na cintura. Isso é também possível para quem quer casar-se e ganhar dinheiro por meios justos para viver de maneira razoável, embora fosse melhor aquisição se não quisermos adquirir propriedade neste mundo e amar a pobreza adotada no princípio por Cristo, mais do que qualquer abundância. Em resumo, para trabalhar para uma causa razoável, qualquer coisa que for por nossa vida não é condenável por natureza, por assim dizer, nem proibido pela Lei.
Vamos dizer assim, se necessitamos fazer distinções e sumarizar o que foi dito sobre o assunto:
Esse é um ato de homens perversos, desmerecedores mesmo de serem servos, desdenhar os mandamentos do Senhor. Para observá-los é necessário ser um sábio e confiável servo. Mas para acolher os maravilhosos conselhos com prazer e levá-los adiante como puder, isso é dever de um homem desejoso de grandes valores, não satisfeito em ser apenas um servo, quando pode ser um filho.
É necessário assim falar como segue: é por natureza de homens melhores, eu me refiro a aqueles que dizem que seguem os valores acima, estarem com os anjos e se tornarem, por assim dizer, seus companheiros durante a vida. A característica dos homens abaixo deles, homens medíocres, é necessário simplesmente observar os preceitos que salvam e reconciliam Deus com os pecadores. O terceiro grupo, refiro-me a aqueles que, por suas próprias decisões, colocam-se fora dos outros dois mencionados grupos, esse é o grupo dos porcos, que não são bons.
A mim parece, caro amigo, que você não mais mantém sua primeira opinião, tendo aprendido isso e não mais declarado abertamente que nossa Lei é muito dura e se parece com uma armadilha, nem que as exortações e conselhos que você disse excederem a virtude dos homens, contra a verdade. Por que será que esta lei tem sido adequada por recomendar coisas impossíveis?
Que este conselho pareça mais árduo a você do que os mandamentos do passado, não é surpresa, eles são claramente superiores do que aqueles – porque eles levam à sua compleição – como você próprio já concordou. Mas a coisa que é completa, é completa em todos os pontos e é maior do que uma lei que recebe seus complementos dela.
Por outro lado, a que é maior e ascendente é de alguma forma mais complexa e torna mais difícil o caminho que conduz a ela. Em verdade, é um caminho estreito, reto e elevado, considerando por si próprio, é o caminho todo pavimentado por Deus, que, sem deixar o paraíso, desceu e tornou-se homem para a salvação de nossa espécie. Este caminho foi no princípio desconhecido, sem uso e difícil. As dificuldades são inerentes a ele, porque ele leva para cima, ele leva a lugares mais elevados; ele não é largo, nem plano, nem fácil, pela razão de que ninguém o percorreu antes.
As características do caminho que nossos primeiros pais seguiram são o oposto. Ele leva para o abismo e lá estão muitos homens que desde o princípio comprometeram-se, atraídos por essa leve e fácil inclinação e pela atração pelo que é fácil. Não é surpresa, que o Salvador conduz os homens para longe dos prazeres que levam para o abismo e Ele os encoraja a tomar o caminho que pode salvar os viajantes. Seria espantoso se tivesse recomendado outra coisa. A razão principal é que lá a necessidade nada tem em comum com ele e jogar em torno e ele estigmatizar a vida fácil, por assim dizer, aos olhos de todos e a aqueles que procuram a mesma coisa.
De fato, entre todos os humanos, ele é para você também e acima de tudo, o que ele mostra. Para aqueles entre vocês, que se parecem com crianças da virtude, acreditam que elas são melhores do que quem alardeia uma vasta reputação e grandes riquezas. Os gregos, obviamente, pensavam da mesma forma.
Em resumo, para todos, a virtude é um assunto de estima e o vício um assunto de desprezo. Entretanto, ele foi sem dúvidas, um provedor de preceitos e conselhos, em boa e devida forma, melhor ser feito assim do que procurar obter o consentimento de todos.
Mas, como de fato, nem todos eles seguem o mesmo caminho como servos (discípulos), não é isto que é importante examinar. A parte que é de carne e barro, pode ser dirigida e empurrada e conduzida por todos os meios para a virtude pela racionalidade da alma, mas ela resiste. Você pensa bem e por sua natureza, recusa os benefícios que refreiam a corrupção. Porque, se for verdade que os frutos da virtude são doces, as raízes dessa árvore são amargas. Se tal for verdade, os trabalhos da virtude são penosos e não são alcançados pela necessidade da natureza, mas pela generosidade da vontade. Entretanto, a vontade não é a mesma para todos. Ela seria necessária, ao contrário, e seria espantoso se todos nutrissem a mesma disposição com relação à virtude e não diferissem na conduta uns dos outros.
Assim, o fato que nem todos seguem o mesmo caminho como servos, de forma alguma invalidam a afirmação de que a virtude é uma coisa boa. Pelo contrário, o fato de que todos preferem estar no grupo dos virtuosos do que com aqueles que deram a si próprios uma vida indolente e é isso que valoriza um bem mais elevado.
Eu penso que se alguém oferecer, mesmo para aqueles dedicados à indolência, a escolha de ser capaz, em toda a conduta deles, a voltar-se em direção a melhores valores ou a viverem sua usual moralidade permissiva, eles prefeririam escolher o primeiro caminho e rejeitariam o outro, quase sem considerações.
[O sétimo diálogo continua até o capítulo 37 e quando o dia termina, os dois lados se separam]
NOTA:
Este texto pode ser baixado em arquivo pdf neste link.
Fiz esta tradução a partir de um texto em inglês, baixado deste link, cujo texto foi traduzido por um norte-americano a partir de um texto no idioma alemão, traduzido anteriormente de um texto no idioma grego medieval.
Por essas razões, pode haver algumas frases de pouca clareza e podem não traduzir exatamente o que pretendeu expressar o criador do texto, o Imperador bizantino Manuel II Paleólogos, quando o escreveu em 1371.
O texto original em inglês, pode ser lido neste link.
http://www.tertullian.org/fathers/manuel_paleologus_dialogue7_trans.htm
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