Viagem ao reino de Serendip – Luigi Benesilvi
(06/02/2022)
Pesquisando na internet encontrei milhares de endereços contendo a palavra “Serendip”, mostrando ser hoje uma palavra muito difundida. Existem livros sobre o assunto com várias versões da história. A versão que ouvi quando criança, era sobre a vida de um príncipe, a qual passo a narrar em seguida.

Era uma vez um jovem príncipe, que não conseguia sentir felicidade, pois desde criança fizeram-no acreditar ter vindo ao mundo para realizar tarefas muito importantes, cuja natureza não conseguira ainda descobrir. Estava sempre alerta, exercitando-se na preparação do cumprimento de seu grande destino, não tendo tempo de apreciar outras coisas, nem de se divertir com os amigos. Tudo o que pensava ou fazia referia-se à sua grande missão. Nada mais lhe importava.
O rei, muito triste com a infelicidade do filho, pediu a um sábio para dizer ao príncipe qual era seu destino, dando-lhe alguma missão desafiadora qualquer, que o distraísse de sua obsessão. Foi-lhe dito que antes de saber seu destino teria que ir sozinho até um reino muito distante chamado Serendip e lá encontrar e casar com a linda princesa daquele reino.
Contente com a missão preparatória, o príncipe pôs-se a caminho. Depois de muito andar, enfrentando todo o tipo de dificuldades e ainda longe de seu destino, foi assaltado, despojado de suas posses, foi ferido e caiu exausto à beira do caminho, já longe da fronteira do grande reino de seu pai.
Parecia-se agora muito pouco com o orgulhoso príncipe e seu grande destino. Foi recolhido por um viajante que, sem saber sua identidade, levou-o até a aldeia dele.
Considerando não ter outra escolha a não ser ficar aí até recuperar-se, resolveu adiar por algum tempo sua viagem e aproveitar a ociosidade para relaxar e conhecer melhor as pessoas comuns.
Ficou passeando de um lado para outro da aldeia, sem pressa, aproveitando a agradável companhia da filha do aldeão que o recolhera. A paisagem próxima da aldeia era belíssima, com florestas maravilhosas, plenas de plantas exóticas. A fauna era também muito variada e numerosa, com animais estranhos e muito bonitos. Não tendo outras coisas a fazer enquanto se recuperava dos ferimentos, apreciava tudo maravilhado. Via o mundo com outros olhos. Boa alimentação, boa companhia, conversas afetuosas e alegres fizeram-no recuperar-se em algumas semanas.
Resolveu então voltar à sua viagem e pôs-se novamente a caminho, despedindo-se da linda jovem, com lágrimas nos olhos, pois tinha passado dias muito felizes ao lado dela.
Após muitas peripécias interessantes, finalmente chegou a Serendip, onde conheceu a tal maravilhosa princesa, que afinal não achou tão bela assim, pois era muito artificial e cheia de formalidades.
Vestida com tantas roupas e jóias que nem dava para vê-la direito e nem conversar a sós com ela, pois estava sempre com um bando de criados e guardas a seu redor. Ficou com saudades das agradáveis conversas com a filha do aldeão.

Passados alguns dias, deu uma desculpa qualquer ao rei de Serendip e à princesa e retomou o caminho de volta ao reino de seu pai, pois estava menos obcecado com aquela grande missão de sua vida, achando que talvez seu destino fosse menos grandioso. Talvez a felicidade pudesse estar em coisas menos imponentes.
O caminho de volta não foi menos perigoso, mas percebeu que ao vencer cada dificuldade estava mais próximo da filha do aldeão e começou a ter sentimentos mais fortes em relação a ela.
Chegando à aldeia, foi saudado por todos, que já lhe tinham grande afeto. Dirigiu-se à casa de seu amigo e passou alguns dias maravilhosos ao lado de jovem filha dele.
Revelou então a eles sua verdadeira identidade e os convidou para ir com ele conhecer a capital do reino.
Tendo sido aceito o convite, pôs-se a caminho, juntamente com a jovem e sua família. Na capital, apresentou todos ao rei, o qual ficou muito contente com o rumo que a vida do filho havia tomado. Sentiu-o mais humano e sábio, com todos os requisitos para um dia assumir o reino ao lado da bela filha do aldeão.
Lembrei-me desta história após ter visto muitos jovens gerentes obcecados por atingir rapidamente o topo da carreira, sempre estressados e mal humorados, pensando somente em subir a qualquer custo, tornando sua vida afetiva e familiar muito infeliz.
Lembrei como é importante estar com boa saúde mental e física para aproveitar tantas boas oportunidades de tratar os assuntos administrativos de forma cooperativa, estimulando os funcionários a produzirem bons resultados em vez de massacrá-los com tarefas e prazos desumanos.
Melhor resultado pode ser conseguido com a manutenção de um ambiente positivo e cooperativo.
Nos tempos modernos a palavra Serendip passou a significar a capacidade de aproveitar as oportunidades marginais que se apresentam ao longo da vida e carreira das pessoas, mesmo quando estão em posições de grande responsabilidade e concentradas no atingimento das metas organizacionais.
Embora tentemos planejar tudo com racionalidade, muitas soluções de situações complexas acontecem por circunstâncias não planejadas, causadas por eventos externos, de natureza política, social ou administrativa.
A lição do conto de Serendip é que o caminho da felicidade pode estar bem à nossa vista e nas pequenas coisas que acontecem a longo do caminho.
Luigi Benesilvi
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Não é escritor profissional , mas supera pela simplicidade e leveza das escritas. Me lembra do escritor e poeta Jibran Khalil Jibran (ou Jubran). Sempre a leitura de seus artigos é prazerosa.
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Gostei muito da história ilustrativa da palavra “serendip”.
Eu conhecia apenas a acepção dela como uma seqüência de eventos casuais que propiciam uma situação auspiciosa e, de certo modo, surpreendente para quem a seguia também por sorte.
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