A América Latina Tem Menos Armas e Mais Crimes – Ryan McMaken
(22/11/2018)

As notícias da América Latina deste ano trazem duas lembranças de que o restrito controle de armas não reduziu o crescente problema de homicídios em muitas partes da região.

América Latina 1A primeira lembrança é que os homicídios alcançaram novas altas no México este ano, alcançando níveis recordes, não vistos desde que o país iniciou o registro há vinte anos.

A segunda é que os crimes violentos começaram a ser um dos assuntos principais na disputa presidencial deste ano no Brasil, com o presidente eleito, Jair Bolsonaro, venceu propondo uma plataforma de luta contra o crime, inclusive com uso das forças armadas, se necessário.

Em ambos os casos, os crimes continuam crescendo, a despeito do fato que ambos os países, Brasil e México, não serem nem um pouco liberais em relação à posse de armas de fogo. Na verdade, ambos empregam regimes de restrito controle de armas, assim como fazem a maioria dos países da América Latina.

Esses fatos têm se apresentado como um grande problema para os adeptos do controle das armas de fogo, é claro, pelo fato dos argumentos deles repousarem na ideia de que a redução da posse de armas traz automaticamente uma redução na taxa de crimes.

Menos Armas, Mais Crimes?

As leis sobre controle de armas, é claro, só contam a parte da história que trata da posse legal de armas numa sociedade. Temos também que considerar a posse ilegal de armas de fogo e a quantidade total de armas em geral.

A atualização deste ano da Pesquisa Sobre Armas de Pequeno Porte, publicado pelo “Institute of International and Development Studies” em Genebra, mostra que a posse de armas, legal e ilegal, não é especialmente tão generalizada na América Latina, mesmo pelos padrões europeus.

América Latina 2Fonte: Small Arms Survey.

Por exemplo, de acordo com as estimativas da pesquisa, existem apenas, 12,9 armas civis para cada 100 pessoas no México. O total no Brasil é ainda menor, apenas 8,3 armas para cada centena de pessoas.

Compare esses números com quaisquer números de outros países com taxas de homicídios muito mais baixas, como Canadá, Áustria, Suíça e mesmo a Alemanha. (Não precisamos sequer levar em conta os Estados Unidos, onde, é claro, existem números muitas vezes mais altos de posse e porte de armas de fogo, com taxas de homicídios relativamente muito mais baixas pelos padrões mundiais). Nenhum país da América Latina, fora o Uruguai, atinge esses totais em termos de posse de armas.

América Latina 3Fonte: Small Arms SurveyWorld Bank.

Olhando esses números, nós simplesmente não vemos a relação direta de causa e efeito entre a posse de armas de fogo e as taxas de homicídios. Certamente, existem outros fatores em jogo e homicídios não podem ser realmente explicados de forma convincente por “menos armas, menos crimes”.

América Latina 4Fonte: World Bank.

Essa realidade na América Latina, entretanto, é sistematicamente ignorada. Como já expliquei no passado, a persistência de altas taxas de crimes na América Latina, a despeito de numerosos controles, têm sido seguidamente ignorada pelo uso de viés frouxo de baixas expectativas regionais.

Temos sido informados que na América Latina não podemos esperar respostas a meios legais da mesma maneira que em regiões com pessoas mais “civilizadas” do primeiro mundo.

Assim sendo, só devemos esperar que os latino-americanos se comportem como bárbaros e mantenham sempre altas taxas de homicídios, a despeito de existirem rigorosas leis de controle.

Desprezando o caso da América Latina, podemos então facilmente argumentar que os Estados Unidos possuem taxas de homicídios mais altas que os países europeus, somente por causa dos Estados Unidos serem mais liberais em relação ao controle de armas. Todos os outros fatores são ignorados. Isso então se torna automaticamente um “fato”, que todos os países industrializados ou “desenvolvidos” com rígidos controles têm baixa criminalidade, assumindo que ignoremos a Rússia, é claro.

Mitos da Posse de Armas da América Latina.

Essa posição pode ser conveniente para os apologistas do controle de armas, mas falha em satisfazer qualquer um que considerar os latino-americanos como seres humanos completos. Além de tudo, com exceção da Venezuela e algumas áreas da América Central, a América Latina não é uma região de nações fracassadas ou em estado de guerra civil. Essa região está majoritariamente em paz e compartilham muitas coisas em comum com os Estados Unidos, em termos históricos, imigração e diversidade étnica.

Alguns apologistas de controle de armas têm tentado contornar esse problema, clamando, sem provas, que a América Latina de fato tem grande quantidade de armas. Sobre isso, num bizarro artigo de 2015, para a revista Salon, o autor afirma que Honduras, onde existe uma formidável taxa de homicídios, é uma distopia libertária pró-armas, onde os anarquistas tem “enchido o país de armas”, com o governo permitindo a aquisição de armas de fogo sem restrições, resultando com isso, segundo o autor, numa violência sem fim.

Essa noção de que Honduras é um lugar onde imensa quantidade de gente anda armada pelas ruas, entretanto, é pura ficção. De acordo com a pesquisa da “Small Arms Survey”, o total de armas em Honduras é de 14,1 para cada centena de pessoas, sendo uma pequena fração do número dos Estados Unidos e menos da metade do número do Canadá.

Similarmente, alguns têm tentado argumentar que a taxa de homicídios do México pode ser explicada pela proximidade com os Estados Unidos. Dizem que o estado do Texas exporta grande quantidade de armas ilegais para o México.

Pesquisas da Stratfor e da Small Arms Survey têm mostrado que as armas ilegais no México são usualmente provenientes de estoques nativos,  levadas ao mercado clandestino por militares e policiais civis. Elas não são adquiridas de traficantes americanos.

América Latina 5Além do mais, a Small Arms Survey inclui também as armas ilegais e contabilizam essas armas na quantidade total de armas de fogo no México, que é muito pequena, em comparação com a quantidade existente nos Estados Unidos.

Embora ouçamos incansavelmente que maiores quantidades de armas levam à existência de mais crimes, a experiência da América Latina, certamente não empresta muitas credenciais a essa ideia.

Advogados do controle de armas tentam ignorar a situação da América Latina e concentram o foco estritamente na Europa, onde eles clamam que as menores taxas de crimes são causadas pelas menores quantidades de armas em mãos dos cidadãos. Mesmo que essa afirmação precise excluir a Rússia, a Suíça e a Ucrânia e países bálticos para ser verdadeira.

Expandindo nossa análise para as Américas, entretanto, rapidamente encontramos que essas afirmações podem ser tudo, menos auto evidentes.

                                      Ryan McMaken

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Os artigos originais, em inglês, podem ser lidos nos links:

https://www.infowars.com/latin-america-has-fewer-guns-but-more-crime/

https://mises.org/wire/latin-america-has-fewer-guns-more-crime

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