Imprensa Pauta Matérias Para Servir a Grupos de Interesse
(02/09/2019)
O segmento chamado de “Redação Móvel”, da primeira edição do noticiário DFTV, da Rede Globo, de 02 de setembro de 2019 foi dedicado à crise do comércio no Distrito Federal.
A reportagem durou uns sete minutos, mostrou algumas fachadas de lojas fechadas e entrevistou uma dona de uma loja de flores e outra de materiais de decoração, que reclamaram das dificuldades que têm para manter os comércios em funcionamento.
A repórter Camila Guimarães falou que as causas seriam, a redução do poder aquisitivo da população e a “Lei do Silêncio”.
Entrevistou o presidente da Federação do Comércio do Distrito Federal, que atribuiu a crise à falta de estacionamentos e à “Lei do Silêncio”.
A partir daí a jornalista passou a atribuir a crise do comércio e o desemprego de muitos trabalhadores à lei que impede os bares de apresentarem shows musicais durante a noite, porque os moradores das vizinhanças são muito intolerantes e não aceitam ficarem acordados a noite toda por causa do barulho, segundo ela.
O que a jornalista chama de bares, são “botecos” compostos por uma sala de uns 40 metros quadrados, onde fica a cozinha e uma porção de mesas e cadeiras colocadas nas calçadas, impedindo a passagem dos pedestres.
Quem mais está sofrendo com a crise são os restaurantes, que possuem mesas e cadeiras dentro do estabelecimento, pagando altos aluguéis, cuja frequência é diretamente afetada pelo menor poder aquisitivo da população.
Ela leu trechos da lei, citando que os limites atualmente em vigor, fazem com que quatro pessoas conversando na mesa do bar, ultrapassem os baixos limites estabelecidos. Isso que é uma deslavada mentira, porque as conversas dos frequentadores dos bares, só são ouvidas nos edifícios, quando os bares apresentam jogos de futebol e alguns torcedores bêbados se exaltam e começam a gritar e cantar os hinos de seus clubes.
que o lobby dos bares quer é que seja liberada a música ao vivo e em caixas de som de alta potência, sem restrição de horários, não levando em conta o interesse dos moradores, os mais prejudicados pelo barulho e algazarras.
Ela se referia à Lei 4.092, de 30 de janeiro de 2008, que regulamenta a emissão de ruídos no Distrito Federal, que coibiu os exageros dos bares das quadras, que apresentavam música ao vivo, com caixas de som potentes, que impediam os moradores de dormirem praticamente a noite toda.
Desde que a lei entrou em vigor, há forte pressão da associação de bares e restaurantes na revogação ou revisão dessa lei.
Outra reivindicação da associação é de criarem estacionamentos nas áreas verdes localizadas entre os comércios locais e os edifícios residenciais, para que os frequentadores possam estacionar seus carros em locais próximos aos bares.
A jornalista entrou em contradição, quando declarou que os bares existem para proveito dos moradores das proximidades, que podem ir a pé frequentá-los, fato que prescindiria da existência de estacionamentos adicionais. Os bares são prejudiciais aos moradores e seus frequentadores vêm de outros locais, daí a necessidade de mais estacionamentos.
Quando Oscar Niemeyer projetou a urbanização de Brasília, pretendeu que as quadras fossem autossuficientes, com uma ou duas padarias, açougues, quitandas, farmácias, restaurantes, etc.
Nunca iria concordar que numa quadra houvesse oito bares, seis restaurantes e quatro lanchonetes e nenhuma quitanda, mercado, farmácia e açougue, como é o caso de muitas quadras comerciais locais.
Interessante é que não foi apresentada nenhuma fachada de bares fechados e nem houve qualquer entrevista de proprietários de bares e posso garantir que nenhum bar das redondezas fechou as portas nos últimos cinco anos. Também não houve entrevistas com moradores.
A reportagem foi toda feita durante o dia, porque se fosse feita à noite mostraria os bares cheios de gente, comendo e bebendo, como sempre acontece. Não mencionou que a economia está crescendo pelo terceiro mês consecutivo, o que traz esperanças de melhorias nos níveis de empregos.
O edifício onde moro fica perto do comércio local, onde estão as lojas, bares e restaurantes e participei ativamente na luta para a criação da Lei 4.092, pois não aguentávamos ficar acordados durante praticamente todas as noites de quinta, sexta e sábado, por causa do barulho.
Em frente ao edifício onde moro havia um bar que apresentava música ao vivo das 22 horas até as 5 horas da manhã seguinte. Tivemos que recorrer à justiça para que parassem com a barulheira.
Dos quase sete minutos da reportagem, mais de três foram dedicados à condenação da Lei da Poluição Sonora, cuja existência tirou o emprego de um grande número de trabalhadores, segundo a repórter.
A final, em tom ameaçador, a jornalista afirmou que o assunto vai ter que ser considerado novamente junto aos deputados distritais e demais interessados, para que fosse encontrada uma solução favorável aos bares.
O apresentador Antônio de Castro ainda deu uma força, declarando que o assunto é polêmico, mas as partes interessadas têm que chegar a um acordo. Isto é, os moradores vão ter que concordar com o barulho.
Fechamento de lojas ocorrem em Brasília desde sempre, principalmente das lojas localizadas na parte de trás dos prédios comerciais, onde quase não passam pedestres, o que poderia ser amenizado com a criação dos estacionamentos perto dos edifícios residenciais.
Essa foi uma amostra típica de pauta encomendada por um grupo de interesse, na qual a emissora deu ares de interesse geral, mas que, de fato, só interessava aos empresários que encomendaram e provavelmente pagaram pela matéria.
Para fazer isso, montou uma narrativa fantasiosa, cheia de erros e contradições.
Luigi Benesilvi
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NOTA:
A Lei 4.092 pode ser lida e baixa neste link e o vídeo da reportagem pode ser assistidos neste outro link.
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