O Excesso Cuidados com os Coitadinhos – Luigi Benesilvi
(14/01/2022)
Depois do discurso de Primeira-Dama, com interpretação de Libras, essa linguagem ficou muito popular no Brasil e parece beneficiar grande número de pessoas com deficiência auditiva grave.

A mim, no entanto, incomoda ter que assistir uma apresentação do Presidente, tendo ao lado, no mesmo plano, uma pessoa corpulenta fazendo gestos ininteligíveis para mim. Acabo tendo muita dificuldade de entender o que Bolsonaro está dizendo.
Tanto me incomoda que costumo tapar com o dedo o intérprete de Libras para não me distrair ou deixo o telefone sobre a mesa e só escuto o áudio.
Fico pensando se é só implicância minha ou incomoda outros também.
Resolvi ver quantas pessoas se beneficiam com a interpretação de Libras e fui pesquisar na internet.
A primeira pesquisa acabou indo no site do TRE-PE (Tribunal Regional Eleitoral), neste link, onde está escrito que
“Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE), 5% da população brasileira é composta por pessoas que são surdas, ou seja, esta porcentagem corresponde a mais de 10 milhões de cidadãos, dos quais 2,7 milhões possuem surdez profunda, portanto, não escutam absolutamente nada.”
Para o TRE e o IBGE existem 10 milhões de pessoas surdas e 2,7 milhões que são completamente surdas.
10 milhões de pessoas dá quase 5% da população e 2,7 milhões dá 1,2% dos brasileiros.
Achei meio exagerado, porque em toda a minha vida conheci apenas alguns surdos e isso por causa de um convênio da empresa em que trabalhava com uma instituição de surdos para dar emprego temporário para essas pessoas.
Conheço algumas pessoas com deficiência auditiva, mas que ouvem muito bem usando um aparelho eletrônico auxiliar.
Dei uma olhada em outras publicações sobre essa questão de deficiência auditiva, mas pouco encontrei de útil quanto ao número de pessoas completamente surdas, que se beneficiam de fato com a interpretação de Libras nas apresentações públicas.
Continuei pesquisando e achei neste site, algumas informações mais realistas, em que o autor conclui o seguinte:
“Com o Censo de 2010 NÃO é possível dizer:
- Quantos brasileiros são clinicamente e legalmente surdos
- Quantos brasileiros usam implante coclear
- Quantas pessoas usam aparelhos auditivos
- Quantos deficientes auditivos são oralizados
- Quantas pessoas utilizam a Língua Brasileira de Sinais
- Quantas pessoas são bilíngues (português/Libras)
- Quantas pessoas estão em escola inclusiva
- Quem precisa acessibilidade no atendimento de serviços públicos
- Que precisa dos serviços do SUS
- Quantos utilizam a lei de cotas
Para concluir: o Censo de 2010 NÃO serviu para esclarecer detalhes sobre a deficiência auditiva.”
Com a tecnologia de legendas automáticas (Closed Caption), daria para satisfazer a maioria das pessoas surdas e evitaria o incômodo para todas as demais pessoas que assistem essas apresentações.

Como faço legendas de vídeos estrangeiros, uso algumas vezes essa tecnologia e fico impressionado com a acuidade da interpretação, que chega a ser próxima de 100%. Só escapam termos de gírias regionais e frases irônicas, nas quais os interpretes de Libras também teriam dificuldades de entender.
Outra solução seria colocar o intérprete em local mais longe do apresentador e prover a opção de ver ou não o intérprete, assim como é feito na maioria dos vídeos legendados.
Posso estar enganado, mas parece haver agora uma certa reserva de mercado cativo para professores e intérpretes de Libras, gasto que poderia ser aplicado outras áreas carentes.
Mudando de objeto, mas não de assunto, algum tempo atrás andei observando aquelas imensas vagas para deficientes físicos, quase sempre vazias, nos estacionamentos públicos e escrevi a respeito daquilo também. Chamei o artigo de “Culto aos Coitadinhos”, que pode ser lido neste link.
Em 1967 o jornalista Emil Farhat lançou um livro chamado “O País dos Coitadinhos”, no qual ele faz uma crítica sobre o culto ao “coitadismo” dos brasileiros em geral. Segundo ele, os brasileiros têm o hábito de reivindicar direitos assistencialistas, sem a contrapartida dos deveres.

Num trecho do livro, Farhat escreve:
“Certo tipo de juiz agindo em função do bom-mocismo ou do terror intelectual habilmente lançado pelos comunistas, assume, através de sentenças sistemáticas, a posição ‘filosófica’ de que a legislação trabalhista tem como finalidade única proteger o ‘coitadinho’: o ‘coitadinho’ do incapaz, o ‘coitadinho’ do desleixado, o ‘coitadinho’ do empregado desleal com a empresa que lhe dá trabalho, e o ‘coitadinho’ que fez apenas pequenas e tímidas desonestidades….” (FARHAT, 1968, p. 11-12).
Ao procurar uma imagem para ilustrar este artigo, acabei encontrando o texto de alguém que pensa parecido comigo, onde faz vários comentários sobre o livro de Emil Farhat. Pode ser lido neste link.
Transcrevo uma frase citada no artigo acima, no qual o autor cita vários grupos de “coitadinhos” brasileiros dos tempos atuais.
“Quando eu era garoto, não tinha essa história de bullying. O gordinho dava pancada em todo mundo, hoje o gordinho chora. Tudo é ‘coitadismo’, coitado do negro, coitado da mulher, coitado do gay, coitado do nordestino, coitado do piauiense, tudo é ‘coitadismo’ no Brasil. Vamos acabar com isso.” – Jair Bolsonaro (entrevista TV Cidade Verde em 2018)
Do ponto de vista humano, acho louvável e apoio os esforços para reduzir o desconforto de todas as pessoas que sofrem de alguma deficiência, mas não posso aceitar que esse esforço seja exageradamente feito para tentar tornar a vida delas igual às pessoas sadias, pois isso é impossível, principalmente se isso for realizado em detrimento dos direitos das demais pessoas e a custos altíssimos.
No meu prédio tem um rapaz cego e a mãe dele o defende de forma exagerada, ao ponto de tentar vetar a construção de um parquinho infantil porque algumas partes do prédio, que tem 6 andares, 60 apartamentos e 10 elevadores não estão totalmente adequadas para deficiência do filho dela.
Chegou a exigir a adequação do caminho do edifício até a escola de inglês frequentada pelo filho, inclusive com semáforo especial. O representante do Detran perguntou a ela o que aconteceria se o filho mudasse de escola e negou o pedido.
Outro dia assisti uma reportagem mostrando um cadeirante em visita a um hotel fazenda no interior de Goiás, reclamando por não poder ir a uma excursão junto com os demais visitantes, porque não havia um caminho na mata especial para cadeirantes.
Luigi Benesilvi
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