Uma estranha noite num estranho hotel – Luigi Benesilvi
(22/12/2022)
Passava de meia noite e eu e minha esposa não conseguíamos dormir por causa dos barulhos, rangidos, vozes e gemidos que vinham dos corredores do hotel, onde estávamos alojados na suíte master do Franconia Inn.
Saí do quarto para investigar de onde vinham esses ruídos e vi uma luz fraca no final do corredor, vindo em minha direção.
Fiquei com receio de ser algum assaltante, mas mesmo assim caminhei em direção à luz, que parecia uma daquelas lanternas antiga sendo carregada por alguém.
Cada passo que eu dava o chão de madeira rangia e estalava. A figura pareceu retroceder, indo em direção das escadas para o andar inferior. Fui até lá e vi a luz parecendo sair através da porta de vidro da entrada do hotel.
Não havia ninguém no balcão da recepção e o hotel estava quase às escuras. Só se podia ver alguma coisa quando a luz da lua penetrava pelas grandes janelas de vidro do hotel.

Voltei para o quarto e passamos quase toda a noite sem conseguir dormir, pois os barulhos, vozes, rangidos e gemidos continuaram durante toda a noite.
As chamas da lareira e o crepitar da madeira queimando, faziam o ambiente ficar ainda mais fantasmagórico.
Além do mais, havia o barulho do vento e dava para ver e ouvir a neve batendo na janela da suíte.
Lembrei daquele filme “O Iluminado”, no qual o Jack Nicholson e sua família passam a noite num hotel vazio, onde aconteciam coisas muito estranhas.
Foi com alívio que assistimos o alvorecer e ouvimos os barulhos normais e vermos alguns cavalos pastando no gramado atrás do hotel e os esquilos saltando nos montes de lenha.
Explico adiante como fomos parar nessa estranha situação.
Aconteceu em meados de março de 2000. Tínhamos ido aos Estados Unidos visitar nosso filho que estudava no Dartmouth College, em New Lebanon, New Hampshire.
Depois de passar alguns dias com ele, resolvemos ir de carro para o norte, até perto da fronteira do Canadá, para visitar ou pernoitar no hotel de Bretton Woods, onde havia sido realizada a reunião que definiu o mundo financeiro logo depois da segunda guerra mundial.

Passamos por dezenas de cidadezinhas tradicionais no trajeto e aproveitamos para conhecer o interior tradicional dos Estados Unidos, o que atrasou um pouco nossa chegada ao destino.
Já de tardezinha chegamos a uma cidadezinha chamada Franconia, muito frequentada por pessoas que iam praticar esportes de inverno. Pretendíamos pernoitar em algum hotel da cidade.
Percorremos as ruas centrais e encontramos tudo fechado e não havia hotéis dentro da cidade. Já escurecendo quando achamos uma lanchonete ainda aberta, onde fizemos um lanche e perguntamos onde podíamos pernoitar.
O dono falou que ia ser difícil, porque a temporada já havia terminado e a cidade já estava praticamente vazia.
Falou que alguns quilômetros fora da cidade havia um hotel, o Franconia Inn, que poderia ainda estar funcionando.
Chegamos no hotel já noite escura e ele estava fechado. Era um hotel de madeira de três andares, muito antigo.
Como vimos uma luz acesa, batemos na porta e um rapaz veio atender, dizendo que estava fechado. Ofereceu um café quente, dizendo que às 20 horas ia embora, pois só cuidava do hotel durante o dia.
A temperatura havia baixado muito e estávamos tremendo de frio.
Minha esposa tinha machucado o polegar da mão esquerda e precisava fazer um curativo e tomar um analgésico. O rapaz tinha gaze, esparadrapo e analgésico, que gentilmente nos cedeu.

Percebendo nossa precária situação ele fez uma proposta. Nos alojaria na melhor suíte do hotel e deixaria as chaves conosco para pernoitarmos, mas de manhã cedo teríamos que ir embora, deixando a chave num local que ele indicou, pois o dono viria para levar algumas coisas embora e fechar a temporada do hotel. Teríamos que pagar adiantados os 100 dólares do pernoite.
Com um pouco de receio, aceitamos a oferta. Ele mostrou o local onde havia café, biscoitos e alguns sanduíches. Levou-nos até a suíte, onde acendeu a lareira.
Despediu-se e foi embora.
Na manhã seguinte ele trouxe um lanche e disse que podíamos ficar até meio dia, pois o dono só viria de tarde.
Falei sobre os ruídos noturnos e ele explicou que o hotel era do século 18 e havia se incendiado e sido reconstruído duas vezes. Falou sobre várias histórias estranhas acontecidas no hotel.
Ao escrever este texto fui pesquisar mais e encontrei este texto sobre a história do hotel Franconia Inn.
Fomos até o outro lado da rua, onde tem um gramado grande, usado para pouso de asas-deltas, ultraleves e planadores, onde bati a foto de minha esposa na frente do hotel.
Enquanto estávamos lá, ouvimos sirenes da polícia e um pouco depois um automóvel entrou em alta velocidade no estacionamento do hotel, derrapando e cantando pneus, com um carro de polícia atrás dele.
De armas em punho, os policiais gritaram para o homem descer do carro, colocar as mãos encostadas no carro e abrir as pernas, assim como fazem nos filmes policiais. Revistaram o homem, colocaram algemas nele e o levaram embora.
O rapaz do hotel, que havia saído para ver a cena, disse que o policial explicou que o homem não havia parada na sinalização dele e por isso estava sendo preso.

Demos uma gorjeta de 50 dólares para o rapaz e um pouco antes do meio dia fomos embora e voltamos para a casa do nosso filho em New Lebanon, onde chegamos já ao anoitecer.
Até hoje, passados mais de 20 anos, eu e minha esposa relembramos nossa noite de aventura nesse estranho hotel.
Luigi Benesilvi
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NOTA
O fato mais inusitado da história foi o rapaz ter nos deixando sozinhos dentro de um hotel razoavelmente grande.
A história do fantasma pode ter sido fruto exagerado de minha imaginação e ter sido apenas a luz da lua refletida nas janelas e espelhos do hotel, mas os barulhos e conversas pareciam bem reais, pois minha esposa também os ouviu.
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